segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ouço os teus sonhos

Há pouco adormeci nos teus braços. Falamos, falamos e quando dei por ela tínha adormecido.
O teu enorme braço rodeava o meu corpo, e assim adormeci (Protegida contra a chuva e trovoada da noite) ! Hoje não choveu , nem trovejou, mas ...também não iria chover dentro do nosso quarto ne? Sim, foi assim que um dia o classificamos... "o nosso quarto"- no andar debaixo, onde quase que conseguimos ouvir o "barulho" dos bichos feios, que tens no jardim. Hoje, quase que ouvi o namoro entre aquelas duas folhas da laranjeira do teu pai...
Parece que ainda te ouço a respirar, e a sussurrar baixinho o que há pouco disseste: "ainda estás ai?" Onde querias que estivesse? O meu lugar é aí... ao teu lado!!

Obrigada por estes 3 anos, 9 meses e 20 dias =P

Amo-te muito meu amor!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Era a minha segunda consulta com o psiquiatra

Sempre a mesma rotina.
Chegava , sentava-me, e ele pedia-me para falar. Sentada numa poltrona rija , pouco característica de um consultório psiquiatra, falava, e ele que fazia? Ouvia e escrevia… ouvia e escrevia…mas que raio...para isso, basta-me um diário, e ainda sai mais barato.
O consultório era frio, e a minha pele arrepiada mostrava-me o quão doloroso estava a ser para ela, a sua presença ali. O medico, mostrando sempre a mesma feição indiferente irritava-me- parecia que estava ausente, e a minha historia pouco ou nada lhe interessava. Estava tudo tão mecanizado que mesmo sem ouvir uma única palavra , escrevia-a , sem hesitar. Pronto, até podia ouvir, mas uma coisa era certa, a única pessoa a interioriza-la, era eu. Só eu sentia aquilo. As lágrimas escorriam, e ele nem por uma vez fez uma feição simpática e carinhosa, que alegraria só de olhar…Oferecia-me um lenço( era o único momento que em via alguma reacção da parte dele), e eu lá aceitava. Falava , falava… falava, e ele continuava a escrever.
No final da consulta, aumentava-me a dose de calmantes, ansioliticos e ainda mais algumas drogas,enviando-me depois para casa.
Eram assim os meus dias… chegava, contava uma historia de embalar, e no final pagava. Concluindo, passados os 60 minutos, ele eliminava a minha historia da sua cabeça, a fim de a preencher com a do doente seguinte, e eu? Eu regressava a casa. Aliás, nos! Eu e a minha historia


Ps: para além de deprimida, ainda regressava a casa constipada!

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Até amanha!

Hoje, voltei a visitar-te! Às vezes pergunto-me para quê, mas acabo sempre por achar uma pergunta estúpida- afinal, estás sempre igual. Olho-te e vejo esses olhos verdes , que lamento não ter herdado, e aproximo-me de ti, beijando te a testa, e inspirando fundo, com o intuito de ainda sentir o teu perfume (o odor a hospital sempre prevaleceu, mas amanha, tentarei novamente).

Apesar de te encontrares em pré-coma , sei que me ouves, e me sentes. Falo contigo sempre que posso e toco-te para que nunca sintas falta do toque a que sempre te habituei. Pergunto-te se estas triste, e choras. Derramas essas lágrimas salgadas que me angustiam. As vezes preferia que o destino feio desta vida te levasse, para que deixasses de sentir essa dor, que acredito que sentes, e que tu tanto demonstras .Preferia que me visses partir, pois significaria, que não iria viver na tua ausência. Doava-te a minha vida, em troca desta dor que me deixaste.Lágrima salgadas e avermelhadas, com sabor a morte, e cheiro a cinzas. Queria que ficasses do meu lado, para vivenciar a tua velhice, e poder adormecer-te enquanto fazia caracóis nesses cabelos brancos, que tanto admirava. Facilmente adormecias, e facilmente eu sorria (só com a feição de felicidade com que adormecias).

Sempre foste forte, e eram poucas as coisas que te punham abaixo. Teria de vir isto. Era necessário que ocorresse uma proliferação de células a que tomos designamos por- “ a merda do cancro”, para que perdesses as forças, e caísses no antro dessa dor, feia e dolorosa que leva consigo, pessoas belas, feias, fortes e fracas, familiares e amigos. Fazes-me falta e ainda não partiste.

Parte por favor! Deixa-me só neste quarto. Prefiro que partas, e que no próximo toque estejas fria, prestes a congelar-me, sentindo uma mão fria, e rígida, em posto a essa macia com que me presenteias . Quero ver-te esbranquiçar com o tom… “Estou a ir amor! Sinto-me tão livre que quase sinto asas”.

Deixa-me mãe! Deixa-me só !

Não me deixaste. Amanha regressarei! Até lá, vou para o ninho- longe deste mundo frio que teimam em designar “hospital” e levarei comigo esta dor entranhada no meu sangue, que sempre que posso tento fintar, a fim de ambas, seguirmos caminhos opostos.


Corro! Parei. Merda! Estás de novo aqui.