Mais 14 calorias adicionadas a este pote de banhas a que vocês designam de corpo. Não entendo! A culpa foi dela, que me enervou. Andava a portar-me tão bem, e agora isto! E pior do que isto é sentir este nojento sentimento de fome - que se passa? Será que não tem fim? Já chega Rita! Pára! Queres continuar assim? E não me retribuas a pergunta “ Assim, como?”… Assim… Gorda! Que vai na tua cabeça? Olha-te ao espelho!
Detestava estes serões de diálogo com o meu inconsciente. Custava-me ouvir aquelas frias palavras, que me dirigia, mas que sabia que no fundo era para o meu bem! Teria de parar de comer desta forma compulsiva! Aliás, teria de deixar de comer (seja o que for).
Prometia-me a mim mesma, mas sabia que no fundo, não seria esse o caminho que iria tomar. Que raiva! E pronto… lá estava ela de novo :
Ela-já te olhaste o suficiente?
Eu- acho que sim!
Ela- achas que sim? Não tens a certeza?
Eu- Como posso ter a certeza disso?
Ela- Se te sentiste enojada é porque o fizeste.
A verdade é que não o tinha feito! Aliás já nem sei há quanto tempo não enfrento aquele alto espelho do corredor (sempre que lá passo , corro, perdendo toda a visão lateral a fim de não conseguir ver o monstro em que me tornei). A partir de hoje seria diferente…
À hora do jantar , a táctica era sempre a mesma- esforçava-me e servia-me com a menor quantidade de comida possível e a forma como a cortava (em pedacinhos bem pequeninos), fazia-me acreditar que era uma quantidade bastante grande- aliás tão grande que teria de me desfazer deste terrível erro.
Corria para o corredor, e fechava os olhos, com o intuito de não me ver. Entrava na casa de banho e fechava-me – abria a torneia, deixando a água correr com pressão suficiente a fim de ninguém me conseguir ouvir. Pegava na escova de dentes e com a porção final desta , colocava-a na minha pequena boca, empurrando-a o mais possível até vomitar. Por vezes, pensava em mim, no meu corpo, e no meu numero de calças e isso ajudava-me a fazer com que o vómito surgisse mais facilmente.
Depois de ter “regurgitado” este temível erro que teria cometido há instantes, sorria- sentia-me satisfeita o suficiente, e talvez mais magra.(quase que já merecia um doce de recompensa).
“Que nojo Rita, vai-te deitar!Com sorte amanha já tas mais magra, ou então mais gorda, por isso, vê lá se não sonhas com bolos”
Estava a dar em doida! O meu cabelo oleoso, e a minha cara repleta de borbulhas fazia-me sentir um mostro feio e gordo, sem plano de dieta possível. Estava destinado a ser assim. Teria de saber lidar com isso.
Choro, e deito-me mais descansada!
Não consegui! Corri em direcção à cozinha e lá estava ele à minha espera – A bola de Berlinde que sempre namorei ,e que hoje , gostava que dormisse comigo.
Até amanha! Durmam bem!
Quem sabe se hoje não terei uma nova ida à casa de banho!