terça-feira, 21 de julho de 2009

Temo-me !

Merda!
Mais 14 calorias adicionadas a este pote de banhas a que vocês designam de corpo. Não entendo! A culpa foi dela, que me enervou. Andava a portar-me tão bem, e agora isto! E pior do que isto é sentir este nojento sentimento de fome - que se passa? Será que não tem fim? Já chega Rita! Pára! Queres continuar assim? E não me retribuas a pergunta “ Assim, como?”… Assim… Gorda! Que vai na tua cabeça? Olha-te ao espelho!
Detestava estes serões de diálogo com o meu inconsciente. Custava-me ouvir aquelas frias palavras, que me dirigia, mas que sabia que no fundo era para o meu bem! Teria de parar de comer desta forma compulsiva! Aliás, teria de deixar de comer (seja o que for).
Prometia-me a mim mesma, mas sabia que no fundo, não seria esse o caminho que iria tomar. Que raiva! E pronto… lá estava ela de novo :

Ela-já te olhaste o suficiente?
Eu- acho que sim!
Ela- achas que sim? Não tens a certeza?
Eu- Como posso ter a certeza disso?
Ela- Se te sentiste enojada é porque o fizeste.

A verdade é que não o tinha feito! Aliás já nem sei há quanto tempo não enfrento aquele alto espelho do corredor (sempre que lá passo , corro, perdendo toda a visão lateral a fim de não conseguir ver o monstro em que me tornei). A partir de hoje seria diferente…
À hora do jantar , a táctica era sempre a mesma- esforçava-me e servia-me com a menor quantidade de comida possível e a forma como a cortava (em pedacinhos bem pequeninos), fazia-me acreditar que era uma quantidade bastante grande- aliás tão grande que teria de me desfazer deste terrível erro.
Corria para o corredor, e fechava os olhos, com o intuito de não me ver. Entrava na casa de banho e fechava-me – abria a torneia, deixando a água correr com pressão suficiente a fim de ninguém me conseguir ouvir. Pegava na escova de dentes e com a porção final desta , colocava-a na minha pequena boca, empurrando-a o mais possível até vomitar. Por vezes, pensava em mim, no meu corpo, e no meu numero de calças e isso ajudava-me a fazer com que o vómito surgisse mais facilmente.
Depois de ter “regurgitado” este temível erro que teria cometido há instantes, sorria- sentia-me satisfeita o suficiente, e talvez mais magra.(quase que já merecia um doce de recompensa).

“Que nojo Rita, vai-te deitar!Com sorte amanha já tas mais magra, ou então mais gorda, por isso, vê lá se não sonhas com bolos”
Estava a dar em doida! O meu cabelo oleoso, e a minha cara repleta de borbulhas fazia-me sentir um mostro feio e gordo, sem plano de dieta possível. Estava destinado a ser assim. Teria de saber lidar com isso.
Choro, e deito-me mais descansada!

Não consegui! Corri em direcção à cozinha e lá estava ele à minha espera – A bola de Berlinde que sempre namorei ,e que hoje , gostava que dormisse comigo.

Até amanha! Durmam bem!
Quem sabe se hoje não terei uma nova ida à casa de banho!

sábado, 18 de julho de 2009

Menino Da Guitarra

Era ele… um pequeno imortal de cabelos claros e de voz bonita.

Acompanhado da sua amiga guitarra, fazia tremer o mundo- a cada vibração de uma só corda, fazia tremer o coração de muitos imortais como ele ( e não só). Era admirado por uns e desconhecido por outros.

Tinha um dom… cantava e tocava maravilhosamente bem, tornando-se uma força de atracção tão grande, que em poucos segundos, centenas de pássaros, se juntavam a ele e em grupo cantavam horas e horas a fio. Era assim o dia deste pequeno imortal! De calções e t-shirt laranja, abrigava-se por baixo de um carvalho, e desfrutava de toda a sombra a que esta árvore lhe podia proporcionar - Era a alegria de toda aquela vila…

Em repleto Verão, eis que surge uma nova imortal (nunca antes vista nessa pequena vila- Vila das Estrelas Azuis.) Como se era de esperar não demorou muito a juntar-se a este pequeno imortal (Menino Da Guitarra), e Em poucos dias ele e a Menina dos Olhos Negros , mal viviam separados. Cantavam, dançavam chegando mesmo a beijar-se. Inseparáveis, faziam mil e uma promessas um ao outro .

Ele - Prometes que ficas comigo para sempre?

Ela - Prometes que se for embora, corres atrás de mim?

Engraçada relação, em que nunca havia uma pergunta e uma resposta. Teimavam em responder , perguntando, ou fugindo às perguntas com uma nova música. Apesar de inseparáveis, agiam como que se não se quisessem “apegar” muito um ao outro- ambos sabiam que um dia tudo teria de acabar (destino mais do que traçado) . Amavam-se mas não faziam parte um do outro- Eram como peças de puzzle, em que faziam parte da mesma paisagem, mas por mais que tentassem , nunca se conseguiriam encaixar - estranha relação de amor, com fim pré-destinado e pouco ou nada compreendido.

Surge então o fim. Chegou Setembro, e ambos teriam de voltar às aulas (bastante diferentes das nossas ,e bem mais distantes – do outro lado da Lua , junto à estrela Mãe.)

Ele- Adeus meu amor! Sinto-me viciado em ti!

Ela- Adeus meu querido! Eu também! A culpa foi nossa!

Ele- porquê?

Ela- Não devíamos deixar que isto chegasse onde chegou. Não se poderia ter tornado um hábito!

Ele- Eu já me habituei a ti.

Ela- Adeus amor!

Ele- Prometes que me esperas do outro lado da Lua?


Foi a primeira vez que dialogaram como os mortais- perguntas e respostas.

Com o último adeus, o Menino Da Guitarra fecha os olhos, e a Menina Dos Olhos Negros parte, deixando uma mensagem na terra fértil daquele jardim:


“Procura-me! Rua do Vale Encantado, nº 1878 estrelas, esquerdo, 3530- Do outro lado da lua!”


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vida "deitada Fora"



Sinto-me perdida neste mundo de curvas e contracurvas, sujeita a uma constante desorientação, onde mais tarde ou mais cedo me iria acabar por perder. Agora que reflicto sobre isto,vou tarde ( estou perdida, e com défice de forças para conseguir voltar ao meu ancestral).
Olho em meu redor e pouco vejo a não ser momentos passados, perdidos por entre momentos presentes, e alguns escondidos por de trás de momentos futuros. Sim é isso mesmo! Vivo numa constante e enorme confusão! Por mais perdida que me encontre, a verdade é que permaneço neste meu quarto colorido, de cores fortes e garridas, que pouco ou nada conseguem reflectir beleza e cor, à escura vida que possuo dentro do meu corpo.
Por mais que não queira magoar os mais próximos, sei que há muito que já não sou parte integrante deste mundo(não sirvo para fazer número) . Constantes desrespeitos ao meu corpo, e sucessivos desmaios por falta de alimento (já nem alimento o corpo que me carrega).
A quantidade de endorfina libertada a cada corte que faço, já não me satisfaz. Sinto que tenho de arranjar outra solução. Carregada de pulseiras e lenços , evitando qualquer olhar alheio que pudesse notar estes hematomas, e cicatrizes, olho, e penso num novo caminho. Ali estava ele… ali… na estação ferroviária.
Esperei alguns dias (não por falta de coragem, mas por amor aos que me rodeavam). Tentei amar de uma forma que nunca teria amado, e disse “amo-te” um numero elevadíssimo de vezes em comparação ao habitual. Queria “acabar”, sabendo que pelo menos teria demonstrado todo o amor que sentia.
Era cedo ( o sol tinha acabado de chegar).
Comprei um bilhete regional para o Porto, e subi aquelas escadas( por serem enormes, ou por falta de glicose no sangue, custou-me subir). Sentei-me naqueles bancos frios de pedra, e com a colaboração do vento daquela manhã, consegui reflectir com fluidez suficiente a fim de não cometer nenhuma loucura( Teria de estar certa daquilo que iria fazer).
“Informamos a chegada do Alfa pendular com destino a Lisboa Oriente, em cerca de 3 minutos”…
Levantei-me e caminhava de um lado para o outro, derramando lágrimas de cor de café com leite, a cada 2 metros percorridos. Tinha comprado bilhete para o regional, por isso ninguém iria pensar noutra razão para a minha presença aquela hora, naquele local, a não ser a minha suposta ida para o Porto.
À medida que mirava o comboio a alta velocidade, a velocidade a que as minhas lágrimas caiam era cada vez maior. Estava assustada , prestes a entrar em colapso nervoso (mesmo assim, continuava firme na minha decisão). Tum- tum… tum-tum… tum-tum….
Assim que se aproximava do local onde me encontrava, aproximei-me da berma... Tum-tum… tum-tum… Tum… Tum… T… …(silencio)

Mariana

Ontem, dia 15 de Julho de 2011 , jovem de 24 anos suicida-se , cometendo o grande e habitual erro de muitas jovens, de se projectar para o comboio, tendo este como destino Lisboa Oriente . Sem esclarecimentos da parte da família, podemos concluir previamente que se encontra bastante fragilizada . Desde já, os nossos sentimentos.
O numero de suicídios tornar-se cada vez maior com o passar dos tempos, “crescendo “ de forma aritmética em comparação aos dias. Pergunto-me: o que vai na cabeça destes jovens , para cometer loucuras destas? Pergunta a que continuo a não obter resposta.
Apesar de não conhecer o caso, e falar sem conhecimento de causa, considero que se tratava de uma jovem fragilizada, pouco e muito sensível. Jovem dorida e sem forças para viver, mesmo acompanhada dos que mais a amavam. É necessário ter respeito por nós mesmos, e acredito que isto fosse pouco usual no casa desta menina tão jovem. Tinha a vida toda pela frente, mas as forças eram demasiado pequenas para poder lutar contra a forte maré em que talvez se encontrasse. Acção pouco justa para a família e amigos, mas de grande descanso e liberdade para a jovem em si.
Não a conhecia , mas afirmo que se tratava de uma pessoa bastante corajosa – sem coragem para viver, mas com força e coragem suficiente para terminar com aquela dor que tanto a amargurava.
Pessoa forte, por conseguir ir com esta ideia louca para a frente! É preciso ter coragem!

Os melhores cumprimentos de apoio à família.

sábado, 11 de julho de 2009

Vivo para cada gota de sangue!

Já fazia parte da minha rotina diária! Era sempre à mesma hora e com a mesma táctica (admito que agora talvez o faça, com maior frequência ).

Jantava e perto das 9 horas, era o auge. O meu corpo tremia, e nada me acalmava a não ser algo mais forte que me pudesse distrair desta dor que sinto, e que de “leve” tem muito pouco. Precisava de sentir uma dor maior do que aquela que era habitual sentir. Acordava embrulhada neste papel de embrulho escuro, com cara de natal do ano de 2003, e o dia permanecera igual ao seu inicio- triste, velho e melancólico. Nada me fazia rir e entusiasmar com o que viria no futuro- vivia sem objectivos e sem planos previamente estabelecidos. Que raio de vida aquela, em que acordava com a ânsia de que o tempo passasse a correr, e num instalar de dedos, estivesse novamente na cama, pronta para dormir. Os simples actos de higiene incomodava-me. Seria mesmo necessário? Vivia numa escuridão tão grande, que penso, que se não o fizesse, ninguém dava por isso, e tudo isso porque estava muito escuro (para mim, não fazia diferença)

Era a solução( não sei se era a única ou não, mas era a Minha solução).

Após o jantar, refugiava-me no mundo do meu quarto e enquanto ouvia musicas deprimentes ( as que mais adorava), dirigia-me para a casa de banho, incluído nesse mesmo quarto, e abria aqueles envelopes – aqueles que envolviam as lâminas de marca BIC. (sim! Era esta a minha solução).

Respirava fundo, e abstraia-me de tudo, concentrando-me apenas nesse momento - o momento que tanto ansiava ( o momento que me fazia esquecer tudo que de errado encontrava na minha vida- TUDO!)

Ferrava os dentes nos meus lábios,e com força( nem muita, nem pouca- a ideal), “deslizava” a lâmina pelo meu pulso, como um carro, sobre uma estrada. Faço esta comparação, porque tal como as estradas são feitas para receber os carros, sei que o meu pulso serve para receber e suportar estas lâminas, que tanto amo, em fazer deslizar. Senti! Senti a tão esperada dor! Dor tão forte que me faz esquecer a dor constante que sinto e me faz derramar lágrimas salgadas. Agora não! Derramo gotas de sangue – não são salgadas (já provei), mas sabe muito melhor do que lágrimas esquisitas, sem razão aparente.

Sorrio a deito-me descansada como se aquele dia já tivesse valido a pena, assim como todo o esforço de aguentar “viva” até esta hora.

Não sei se é a melhor solução, mas é a minha!

Todos temos objectivos( eu não),desejos (eu não), e momentos ( sim, eu tenho o meu. É este!)

Vivo para este momento!


Laura



História de autoria de Bárbara Rocha

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Por vezes os atalhos não compensam


Não consigo deixar de pensar naquela noite!
Passeava em direcção à minha casa, e como era habitual fazer, fui por entre becos e becos com o intuito de chegar a casa o mais rápido possível – a noite estava fria, e pelo caminho fazia planos do que iria fazer mal chegasse a casa (pensei em deitar-me e ver um filme, no calor da minha cama). Planos, desejos, vontades pouco ou nada realizados.
Encontrei-o! Homem com cerca de 39 anos, que vinha na minha direcção ( a rua era demasiado estreita, para concluir previamente, que viria ter comigo)- afinal, nem o conhecia! Pensamentos pouco realistas, mas que me faziam ficar descansada , e portanto menos assustada. Talvez, teria sido melhor deixar de pensar, e agir em primeiro plano! Talvez tivesse conseguido fugir e nada disto teria acontecido.
Aproximou-se e sem dizer uma única palavra, agarrou-me! Beijou-me e empurrou-me , fazendo-me cair sobre aquele chão imundo, repleto de pedras, areias, e pequeninos bichos que sempre me assustaram, mas que naquela noite, seriam belos, perante o horror que aquele homem me transmitiria.
“Larga-me”- disse eu. Nem uma resposta mereci…Desapertou-me os botões das calças, e de forma desajeitada e grosseira colocou as suas mãos ( ainda mais sujas do que aquele chão). Tentava defender-me, mas que hipótese teria uma menina de apenas 17 anos, perante um homem nojento como aquele de 39, 40 anos! Idade para ser meu pai, era a única coisa que via. Homem que nunca teria visto, e que naquela noite, em pequenos segundos, me fez sentir que o conhecera há muito tempo (pelo menos os actos foram de tal) . Assustada, tentei bater-lhe! Agressões que perante toda aquela brutalidade, manifestavam-se como carícias, que pouco ou nada me fazia defender. “vais ser preso, juro” - (nem estas palavras o faziam parar). Parecia um homem perdido e com tanto medo quanto eu, em que morte, ou prisão não eram motivos para o parar. Ele não teria nada a perder - mostrava não ter vida!Homem nojento, mas com um brilho nos olhos que me fez pensar o quanto estava a sofrer! Mesmo assim, o meu desejo era que morresse ali, mesmo em cima do meu corpo, corpo este que já não apresentava qualquer reacção. Percebi que não havia nada a fazer, a não ser aguentar e rezar para que tudo fosse muito rápido!
Invadiu-me, e abandonou o local. Fiquei ali! Deitada na imundice daquele chão, e de calças pelos joelhos. Não conseguia reagir- O meu corpo tremia , e inundada por todas aquelas lágrimas, permaneci ali. Ali. No local onde teria sido magoada e usada como se aquele fosse o meu papel.

Nessa noite, cheguei a casa horas depois do habitual ( a ideia de ir por atalhos, fez o oposto do suposto). Deitei-me e tal como tinha sido o meu desejo, a cama estava quentinha. O filme não o vi, mas o filme dessa noite permanecera no meu consciente. Adormeci e quando acordei, a minha almofada estava molhada.( o meu inconsciente chorou).

Hoje, continuo a não esquecer a cara daquele homem!

Há um ano que acordo com a almofada molhada!

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Quase que já nem doi!

Era a milésima vez que me tocavas.

A minha expressão já era pouco “expressiva”- igual à que “usava” nas compras ou até mesmo quando falava contigo em dias de “paz”. O meu corpo já estava habituado. Os hematomas quase que já nem se viam, ou demoravam a surgir. Realmente é verdade… com a prática acabamos por ganhar resistência- assunto doloroso, mas banal para tantas como eu.

O simples facto de ter invertido o sumo em cima da mesa, enervou-te! Estavas louco, e sem dizeres uma única palavra, fizeste aquele momento de adução,que aos poucos ias aperfeiçoando e que hoje já me acertava perfeitamente, e com força suficiente para cair sobre aquele chão branco, onde tantas vezes me teria contorcido, com as dores provocadas por atitudes tuas. Apanhaste-lhe o gosto, e hoje já nem precisas daquele copo habitual de vinho, para me tocar. Parecia o teu alvo onde libertavas todas as tuas angustias, e energia acumulada. Hoje recebo estas “carícias” e aceito-as. Não compreendo, mas aceito! Faz parte do meu dia a dia,e a sua ausência por vezes assusta-me. Será que no dia seguinte, haveria novamente paz , ou seria a dobrar? Preocupava-me!

“Homem de 48 anos assassinado em própria casa, por sua esposa , de 42 anos, que usava uma arma branca. Sabe-se que guarda audiência , e espera-se que seja condenada a uns 4 anos de prisão. Esta, desculpa-se como mais uma vitima de violência doméstica. Verídico ou não, são poucos os seus apoiantes..”.

In, Jornal do Dia

É este o mundo em que vivemos- Violência em casa e injustiças no tribunal.