sábado, 11 de julho de 2009

Vivo para cada gota de sangue!

Já fazia parte da minha rotina diária! Era sempre à mesma hora e com a mesma táctica (admito que agora talvez o faça, com maior frequência ).

Jantava e perto das 9 horas, era o auge. O meu corpo tremia, e nada me acalmava a não ser algo mais forte que me pudesse distrair desta dor que sinto, e que de “leve” tem muito pouco. Precisava de sentir uma dor maior do que aquela que era habitual sentir. Acordava embrulhada neste papel de embrulho escuro, com cara de natal do ano de 2003, e o dia permanecera igual ao seu inicio- triste, velho e melancólico. Nada me fazia rir e entusiasmar com o que viria no futuro- vivia sem objectivos e sem planos previamente estabelecidos. Que raio de vida aquela, em que acordava com a ânsia de que o tempo passasse a correr, e num instalar de dedos, estivesse novamente na cama, pronta para dormir. Os simples actos de higiene incomodava-me. Seria mesmo necessário? Vivia numa escuridão tão grande, que penso, que se não o fizesse, ninguém dava por isso, e tudo isso porque estava muito escuro (para mim, não fazia diferença)

Era a solução( não sei se era a única ou não, mas era a Minha solução).

Após o jantar, refugiava-me no mundo do meu quarto e enquanto ouvia musicas deprimentes ( as que mais adorava), dirigia-me para a casa de banho, incluído nesse mesmo quarto, e abria aqueles envelopes – aqueles que envolviam as lâminas de marca BIC. (sim! Era esta a minha solução).

Respirava fundo, e abstraia-me de tudo, concentrando-me apenas nesse momento - o momento que tanto ansiava ( o momento que me fazia esquecer tudo que de errado encontrava na minha vida- TUDO!)

Ferrava os dentes nos meus lábios,e com força( nem muita, nem pouca- a ideal), “deslizava” a lâmina pelo meu pulso, como um carro, sobre uma estrada. Faço esta comparação, porque tal como as estradas são feitas para receber os carros, sei que o meu pulso serve para receber e suportar estas lâminas, que tanto amo, em fazer deslizar. Senti! Senti a tão esperada dor! Dor tão forte que me faz esquecer a dor constante que sinto e me faz derramar lágrimas salgadas. Agora não! Derramo gotas de sangue – não são salgadas (já provei), mas sabe muito melhor do que lágrimas esquisitas, sem razão aparente.

Sorrio a deito-me descansada como se aquele dia já tivesse valido a pena, assim como todo o esforço de aguentar “viva” até esta hora.

Não sei se é a melhor solução, mas é a minha!

Todos temos objectivos( eu não),desejos (eu não), e momentos ( sim, eu tenho o meu. É este!)

Vivo para este momento!


Laura



História de autoria de Bárbara Rocha

1 comentário:

  1. Mais uma das tuas breves histórias (cheguei a pensar que se escrevia "estórias" nestas situações, mas fui confirmar e vi que estava correcto) que me deixam a pensar e com dificuldade em comentar.
    Consigo compreender tão bem a dor da tua "amiga" Laura... e como a dor de patrocínio BIC a consegue acalmar e libertar do inferno do dia-a-dia... mas penso que não teria nunca a coragem necessária a agir da mesma forma. Enganam-se aqueles que pensam que quem toma estas atitudes são uns fracos, uns falhados no mundo dos vencedores. É preciso coragem para admitir que a nossa vida nos dói e que precisamos de algo que nos abstraia. Mais coragem ainda, para passar a actos destes, dolorosos, mas até certo ponto prazerosos e libertadores.
    O segredo está em encaminhar essa coragem para outros campos... para nos dar força e nos ajudar a seguir em frente, fixando objectivos e olhando o futuro olhos nos olhos.

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