segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Aprende a viver com o "diferente"

Vestia uma t-shirt branca nacarada, calças de ganga , e um boné azul publicitando a Tagus. Cabelos curtos e oleosos, delimitando aquele olhar triste e baço da senhora , acompanhado de uns óculos “fundo de garrafa”, redondos e bem graduados. Eram tão grandes, que escondiam a beleza cansada daquela senhora. Beleza para alguns e “estranho” para outros.
Aparentava uma certa deficiência, ou um simples atraso que infelizmente a tornava diferente dos outros. Mas e então? Diferentes, somos todos nós! Quem é igual a mim? Quem é igual a ti? As vezes pergunto-me o porque de muitos de nós, simples humanos, que teimamos em afirmar que somos racionais ( por vezes pouco, caindo para o nulo)ainda não sabemos lidar com a diferença.
Observei-a a viagem toda. Vi coisas estranhas, e outras normais e bonitas. Dentro das coisas que designamos estranhas, e que por vezes de estranho não tem nada, observava uma beleza especial- mais uma vez , diferente.
Admito, o meu olhar não a largou por um instante, mas afirmo, nem por uma vez a olhei de forma diferente, e com “tom” depreciativo. Olhei-a a fim de perceber aquele mundo, e infelizmente vi… O mundo em que vivia era negro e repleto de tudo… Repleto de comentários estúpidos, e ignorantes, ditos por pessoas que se consideram maiores de idade e quem sabe de inteligência superior à média. Pessoas mal formadas, e com ritmo de vida lento, não sabendo acompanhar a diferença.

“Que bonita! Olha para ela! Miau, Miau”
Enquanto miavam ao ouvido daquela senhora, eu pensava… Que pena que esta percentagem de deficientes, não tenha calhado apenas, à família de muitos destes homens. Quem sabe se não era a única forma de crescerem, e verem o quão mal, fizeram aquela senhora.

Saiu na penúltima paragem, e pensei…

Quem sabe se não era a primeira vez que fazia esta viagem. Os destinos mudam… variam. E os comentários? Os comentários são todos da mesma espécie…

Grito-te e não me ouves. Olho-te e não me vês. Toco-te e não me sentes.

Percorro o teu cheiro e sinto-te demasiado longe.( Serão metros a mais, ou serás tu que tens um cheiro demasiado subtil? )Subtil sempre foi o teu olhar. Subtil, mas intrigante. As vezes ainda me pergunto como é possível ver o mar azul nos teus olhos castanhos. Castanhos como os teus longos cabelos ondulados - Parecem as ondas do mar que deslizam no teu olhar, e que vagueiam no meu pensamento.

Nunca te passou pela cabeça, fazer um cruzeiro, para poder substitui-te por outro alguém? Talvez esse alguém se deslocasse em Terra.


Hoje acordei e vi… vi a realidade( bem diferente da habitual)

Afinal tu ouvias-me, mas não o desejavas. Eu olhava-te, mas tu desviavas o olhar. Por mais que te tocasse, não eram as minhas mãos que sentias.

Impacto com a realidade

André

domingo, 6 de setembro de 2009

Tudo o que é novo assusta

Por mais que me tente apresentar ao desconhecido, este teima em não responder- Quem sabe se não sou eu que falo demasiado baixo.
Os meus olhos, pouco captam a sua luz -Mal me apercebo da sua beleza. Não sei que cores usa, ou que padrões prefere, mas algo sei… por vezes é tão ou mais escuro que a madrugada de uma noite de inverno.
Gostava de poder cruzar-me com ela, e dizer-lhe Adeus, com a mesma rapidez com que sou obrigada a dizer Ola. Continuaria a percorrer o meu caminho, e rapidamente me esqueceria da sua presença.
Na teoria dos meus sonhos, isto seria assim!- um breve diálogo de Ola, e Adeus. Na verdade, na realidade dos meus medos, é bem mais do que simples palavras, que se cruzam por obrigação. Hoje sou obrigada a lidar com ele (desconhecido), e meter conversa o suficiente para que possa rapidamente passar a algo “batido” – passo da vida que gostava de poder passar À frente e dizer : ”passo”.
Hoje passei por ele. Vestia ganga, e uma camisola de lâ branca, com um gorro quente branco, que lhe tapava grande parte da face - lã- gelo e frio transmitido por cada palavra declamada. O gorro, serviria para tapar o seu rosto, a fim de nunca conhecer os seus traços e poder fugir no primeiro instante. – Assim, continua a surgir no pior momento, e quando menos se espera.

Medo

Braço direito, e por vezes até esquerdo. Fala-me sempre que espirra, e quando não o faz, sussurra.

Por mais baixo que ouse falar comigo, ouço-o como se estivesse bem perto de mim, e o seu volume fosse demasiado alto para “alguém” que está tão longe.

A uns metros de distância, noto a sua presença a poucos centímetros. Encosta-se a mim, e arrepio-me. Sempre que me toca, o meu pescoço quente, sente a sua voz fria,e tremida, como que se estivesse de viagem, e a ultima teria sido no gelo de um próximo Inverno longínquo.

Ontem gritou baixinho ao ouvido - “venho para ficar”.

Mas hoje… Hoje trato-te por “Tu”.