quinta-feira, 16 de julho de 2009

Vida "deitada Fora"



Sinto-me perdida neste mundo de curvas e contracurvas, sujeita a uma constante desorientação, onde mais tarde ou mais cedo me iria acabar por perder. Agora que reflicto sobre isto,vou tarde ( estou perdida, e com défice de forças para conseguir voltar ao meu ancestral).
Olho em meu redor e pouco vejo a não ser momentos passados, perdidos por entre momentos presentes, e alguns escondidos por de trás de momentos futuros. Sim é isso mesmo! Vivo numa constante e enorme confusão! Por mais perdida que me encontre, a verdade é que permaneço neste meu quarto colorido, de cores fortes e garridas, que pouco ou nada conseguem reflectir beleza e cor, à escura vida que possuo dentro do meu corpo.
Por mais que não queira magoar os mais próximos, sei que há muito que já não sou parte integrante deste mundo(não sirvo para fazer número) . Constantes desrespeitos ao meu corpo, e sucessivos desmaios por falta de alimento (já nem alimento o corpo que me carrega).
A quantidade de endorfina libertada a cada corte que faço, já não me satisfaz. Sinto que tenho de arranjar outra solução. Carregada de pulseiras e lenços , evitando qualquer olhar alheio que pudesse notar estes hematomas, e cicatrizes, olho, e penso num novo caminho. Ali estava ele… ali… na estação ferroviária.
Esperei alguns dias (não por falta de coragem, mas por amor aos que me rodeavam). Tentei amar de uma forma que nunca teria amado, e disse “amo-te” um numero elevadíssimo de vezes em comparação ao habitual. Queria “acabar”, sabendo que pelo menos teria demonstrado todo o amor que sentia.
Era cedo ( o sol tinha acabado de chegar).
Comprei um bilhete regional para o Porto, e subi aquelas escadas( por serem enormes, ou por falta de glicose no sangue, custou-me subir). Sentei-me naqueles bancos frios de pedra, e com a colaboração do vento daquela manhã, consegui reflectir com fluidez suficiente a fim de não cometer nenhuma loucura( Teria de estar certa daquilo que iria fazer).
“Informamos a chegada do Alfa pendular com destino a Lisboa Oriente, em cerca de 3 minutos”…
Levantei-me e caminhava de um lado para o outro, derramando lágrimas de cor de café com leite, a cada 2 metros percorridos. Tinha comprado bilhete para o regional, por isso ninguém iria pensar noutra razão para a minha presença aquela hora, naquele local, a não ser a minha suposta ida para o Porto.
À medida que mirava o comboio a alta velocidade, a velocidade a que as minhas lágrimas caiam era cada vez maior. Estava assustada , prestes a entrar em colapso nervoso (mesmo assim, continuava firme na minha decisão). Tum- tum… tum-tum… tum-tum….
Assim que se aproximava do local onde me encontrava, aproximei-me da berma... Tum-tum… tum-tum… Tum… Tum… T… …(silencio)

Mariana

Ontem, dia 15 de Julho de 2011 , jovem de 24 anos suicida-se , cometendo o grande e habitual erro de muitas jovens, de se projectar para o comboio, tendo este como destino Lisboa Oriente . Sem esclarecimentos da parte da família, podemos concluir previamente que se encontra bastante fragilizada . Desde já, os nossos sentimentos.
O numero de suicídios tornar-se cada vez maior com o passar dos tempos, “crescendo “ de forma aritmética em comparação aos dias. Pergunto-me: o que vai na cabeça destes jovens , para cometer loucuras destas? Pergunta a que continuo a não obter resposta.
Apesar de não conhecer o caso, e falar sem conhecimento de causa, considero que se tratava de uma jovem fragilizada, pouco e muito sensível. Jovem dorida e sem forças para viver, mesmo acompanhada dos que mais a amavam. É necessário ter respeito por nós mesmos, e acredito que isto fosse pouco usual no casa desta menina tão jovem. Tinha a vida toda pela frente, mas as forças eram demasiado pequenas para poder lutar contra a forte maré em que talvez se encontrasse. Acção pouco justa para a família e amigos, mas de grande descanso e liberdade para a jovem em si.
Não a conhecia , mas afirmo que se tratava de uma pessoa bastante corajosa – sem coragem para viver, mas com força e coragem suficiente para terminar com aquela dor que tanto a amargurava.
Pessoa forte, por conseguir ir com esta ideia louca para a frente! É preciso ter coragem!

Os melhores cumprimentos de apoio à família.

2 comentários:

  1. Surge então a velha questão: será o suicidio um acto de coragem ou de cobardia?
    Eu não julgo, nem nunca o irei fazer, sou humana e como tal também eu falho e erro vezes demais. Acredito que quem o faça viva, ou já nem sequer viva, num desespero total, com uma falta de fé e uma dor profunda. O olhar vazio, a cara sem expressão, pernas que já não caminham, braços partidos - o corpo, que nada mais é do que o veiculo que nos permite chegar de forma fisica ao que gostamos, está desgastado. Por dentro, a alma está morta.
    "Matou-se.", dizem. Mas nunca, nunca entendem o porquê, nunca há razões para tal.
    Num dia perdi ganhando uma hora do meu tempo com uma senhora que me era desconhecida. A dado momento, sem me dar conta, passamos da simples e banal conversa sobre o que é viver em grande cidades e falámos de suícidio. Disse-me que já tinha pensado nisso, porque assim como todos, também ela já teve os seus momentos tristes, mas nunca foi capaz de fazer nada. Pensava então nos pais e agarrava-se à vida. Ama-os demais. E eu percebi. E até concordei. Mas fiquei a pensar quantas vidas não vivemos nós pelos outros. O quão altruistas conseguimos ser para respirar por amor aos outros. E isso até me deixou feliz por ver que o nosso egoismo nem sempre é mais forte do que o bem que queremos. Mas, por outro lado, viver apenas por os outros não é já isso um suicidio?
    Podemos ter quase tudo e mesmo assim sentirmo-nos a pessoa mais sozinha do mundo. Cá dentro, às vezes falta amor. As estações de comboio são os sitios mais sozinhos que conheço. Fico também eu sozinha quando lá estou, mesmo que acompanhada. Têm uma carga emocional pesada, de despedidas, mas também de encontros. Pessoas que não mais se tornaram a ver, amor de olhos que se perde para sempre, chegadas e abraços de saudades. Uma estação é quase uma puta muito profissional, faz tudo. Faz sorrir e faz chorar, faz frio e quente, tanto dá como rouba. Uma estação é um lugar sozinho. A alta velocidade. É um lugar de impulsos. Ou "impulsos mais do que planeados". E por isso, também ela um lugar de morte.

    Gostei muito, Bá (:
    Um beijinho e um Sol quentinho para ti, para que uma estação de comboios nunca te veja chorar a partida de quem mais amas.

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  2. Fiquei sem palavras com o comentário anterior. Não vou dizer mais, está tudo dito. Podia tentar dar uma volta diferente "à coisa", mas não consigo. Bom de mais. As palavras certas, no contexto ideal.
    Subscrevo e faço minhas essas ideias.

    Parabéns às duas ;)

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