sábado, 18 de julho de 2009

Menino Da Guitarra

Era ele… um pequeno imortal de cabelos claros e de voz bonita.

Acompanhado da sua amiga guitarra, fazia tremer o mundo- a cada vibração de uma só corda, fazia tremer o coração de muitos imortais como ele ( e não só). Era admirado por uns e desconhecido por outros.

Tinha um dom… cantava e tocava maravilhosamente bem, tornando-se uma força de atracção tão grande, que em poucos segundos, centenas de pássaros, se juntavam a ele e em grupo cantavam horas e horas a fio. Era assim o dia deste pequeno imortal! De calções e t-shirt laranja, abrigava-se por baixo de um carvalho, e desfrutava de toda a sombra a que esta árvore lhe podia proporcionar - Era a alegria de toda aquela vila…

Em repleto Verão, eis que surge uma nova imortal (nunca antes vista nessa pequena vila- Vila das Estrelas Azuis.) Como se era de esperar não demorou muito a juntar-se a este pequeno imortal (Menino Da Guitarra), e Em poucos dias ele e a Menina dos Olhos Negros , mal viviam separados. Cantavam, dançavam chegando mesmo a beijar-se. Inseparáveis, faziam mil e uma promessas um ao outro .

Ele - Prometes que ficas comigo para sempre?

Ela - Prometes que se for embora, corres atrás de mim?

Engraçada relação, em que nunca havia uma pergunta e uma resposta. Teimavam em responder , perguntando, ou fugindo às perguntas com uma nova música. Apesar de inseparáveis, agiam como que se não se quisessem “apegar” muito um ao outro- ambos sabiam que um dia tudo teria de acabar (destino mais do que traçado) . Amavam-se mas não faziam parte um do outro- Eram como peças de puzzle, em que faziam parte da mesma paisagem, mas por mais que tentassem , nunca se conseguiriam encaixar - estranha relação de amor, com fim pré-destinado e pouco ou nada compreendido.

Surge então o fim. Chegou Setembro, e ambos teriam de voltar às aulas (bastante diferentes das nossas ,e bem mais distantes – do outro lado da Lua , junto à estrela Mãe.)

Ele- Adeus meu amor! Sinto-me viciado em ti!

Ela- Adeus meu querido! Eu também! A culpa foi nossa!

Ele- porquê?

Ela- Não devíamos deixar que isto chegasse onde chegou. Não se poderia ter tornado um hábito!

Ele- Eu já me habituei a ti.

Ela- Adeus amor!

Ele- Prometes que me esperas do outro lado da Lua?


Foi a primeira vez que dialogaram como os mortais- perguntas e respostas.

Com o último adeus, o Menino Da Guitarra fecha os olhos, e a Menina Dos Olhos Negros parte, deixando uma mensagem na terra fértil daquele jardim:


“Procura-me! Rua do Vale Encantado, nº 1878 estrelas, esquerdo, 3530- Do outro lado da lua!”


4 comentários:

  1. Só te digo uma coisa.....adorei....

    Viajei neste "conto"...nao tenho grandes palavras a dizer....

    está brutallllllllllllllllllllllllllll

    lyou

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  2. Talvez o amor deles não tivesse esse fim assim tão programa, quero acreditar que existiu para além dessa separação física. Ou se não restou nada, espero então aprender a limpar tão bem a casa como eles limparam. E se calhar bem preciso. Não, preciso mesmo. É oficial.
    A menina dos Olhos Negros ainda o deve esperar, nas noites mais frias e nas menos frias - em todas. E ele ainda deve escrever "canções" a pensar nela :) Eu acredito que sim.

    Beijinho, Bá *

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  3. Uma recordação aqui, outra ali... algo permanecerá para sempre na memória daqueles dois. Uma situação que lhes relembrará outra, uma palavra que os fará pensar no outro.
    Nada acaba como se de um programa de televisão se tratasse... Não há guião, há uma vida, que se mantém a mesma e guarda todos os momentos que dela fizeram parte.
    Imagino que num amanhã não muito longínquo se reencontrarão para dar um fim diferente à sua história... ao som da guitarra, com um brilho novo nos negros olhos da menina.

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  4. Uma das primeiras coisas que nos ensinam em jornalismo,(e no poker) é para tentar-mos distanciar-nos o mais possivel do acontecimento para poder-mos ser o mais objectivo possivel...numa versão mais romantica da coisa acredito que os pequenos imortais soubessem que aquele amor? estava destinado a ser perdido e por isso tentavam não se entregar completamente ao que sentiam, para que assim não sofressem tanto na hora do adeus...ainda assim esse, e como nos ensinam, essa tentativa de distanciamento é sempre complicada de fazer e o envolvimento é sempre inevitavel...
    Mas que fazer? vivemos para estes amores, para estes encontros e desencontros...e logo no verão.

    Muito fixes estas pequenas historias...bj

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