quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Há bestas neste mundo que em vez de terra, acartam chumbo


Estava eu numa das passadeiras para peões (em Coimbra) quando me deparo com uma situação, embaraçosa, e um pouco vergonhosa (no meu ponto de vista). Como se deve saber, nestas passadeiras, quando estamos a meio da estrada que pretendemos atravessar, se olharmos para o desenho do peão, verificamos que nesse momento, já se encontra a piscar, o que me indica que ou me despacho, ou sou atropelada (no pior dos casos). Tenho 20 anos e isso ainda não é problema de todo, e tudo porque mal por mal, corro, e rapidamente chego ao outro lado da passadeira, podendo ainda fazer um conhecido sinal de dedo, expressando o meu desagrado , perante algum desconforto, e fúria espontânea de algum condutor, um pouco menos social, e compreensível. O que aconteceu, foi que assim que cheguei ao outro lado, já estava vermelho, tendo atravessado juntamente com uma senhora já idosa, e como tal , com umas pernas um pouco menos fortes que as minhas, impossibilitando-a de atravessar a estrada com a mesma rapidez que eu. Olhei para trás e reparei no comportamento pouco adulto de uma senhora, que ao colocar a cabeça, fora do vidro, expressa-se de forma pouco ética, perante esta senhora, com idade para ser sua mãe. Esta mulher possivelmente com conhecimentos e estudos, teve tudo, menos educação, dizendo palavras de certa forma incomodativas(até para mim, não estando envolvida no assunto) .

Arrepiou-me ver o quão egoístas e desumanas podem estas pessoas ser, incapazes de ver todo o resto, que não envolva o seu próprio umbigo. Custou-me ver aquela senhora , com idade para ser minha avó, correr de forma aflitiva sem ter coragem de um “ se queres, passa por cima”, e em oposto, calar e seguir o seu caminho. Que raio de pessoas são estas que envergonham o nosso país? Se compreensão não são o seu forte, ao menos que respeitam as rugas de muitos destes idosos. Enfim… era essa a minha questão … que pessoas são estas? Acho que perguntei em voz alta, porque rapidamente tive a minha resposta. Olhei para a senhora, e sorri, dando-lhe conforto. Olhou-me e disse : “há bestas neste mundo, que em vez de terra, carregam chumbo!”.

Ouvi e calei. Estava tudo dito!

1 comentário:

  1. E um orgulho ter-te como filha ! A tua capacidade de observação, os teus valores,a tua « grandeza interior », conseguem embebecer-me.São as injustiças que te « doem », não especialmente as dirigidas a ti, mas essencialmente as dirigidas àqueles que poucas capacidades têm para se defender, ou que a natureza os destituiu de algo, algo que ninguém «vê », ou «teima» em não ver, pois é mais cómodo.
    Com o coração tu «vês », escreves ,« gritas » , « amas », e até dizes « estou quilhada » ...Basta penetrar no fundo dos teus olhos quando estes disparates dizes, para de imediato eu sorrir...
    O que agora « és », deves àquela escolinha pública, quase que escondida no meio das acácias, mas que tanto te deu, tanto te ensinou...O partilhares etnias, o brincares com colegas com outros valores e culturas, com os quais aprendeste a conviver diariamente, ensinou-te a respeitar, partilhar, amar...
    O aperceberes-te de tantos infortúnios,ajudou-te a crescer e deu-te uma nova visão da vida, vida que desconhecias, mas que foi mais uma « mãe » a abrir-te outros horizontes, a dar-te a conhecer outras vivências, outras realidades.
    Naquela altura receei estar a prejudicar-te,saiste de uma grande escola, e inseri-te noutra totalmente diferente, mas agora vejo, foi aqui que « cresceste »,foi na diferença que deste os primeiros passos para seres o que agora és, tolerante, amiga, humilde, sempre disponível para ouvir e dar alento a algum amigo que precise.
    Obrigada D. Céu, obrigada Escola da Colónia Agrícola ! ...
    Filha, nunca deixes de ser como és ...
    Como sempre te digo : Vocês são o meu tesouro !
    Mãe

    ResponderEliminar