quinta-feira, 25 de junho de 2009

Ali estáva ele (1º Parte)

A dormir ou a fingir que o fazia, De olhos fechados, e respiração cansada, continuava ali… ali, agarrado aquela cama, fugindo de tudo, e esquecendo de tudo, inclusive da sua própria vontade de se matar.
Pouco falava, e já pouco sentia, e este pouco baseava-se apenas em dor, pena, raiva, e nojo.
Homem angustiado, frio, e doente, Estava ali! Coberto até ao pescoço, como uma boneca de brincar , que deitamos do nosso lado, e cobrimos (Ele, tal como estas bonecas, não tinha opção).
Era o senhor António. Ouvi dizer que sempre fora um homem alegre, bem disposto, e muito trabalhador. Homem cheio de planos, ansiedades, desejos, e vontades. Se cumprira todos os seus planos, não sei, mas talvez um dia o saiba…
Enquanto espreito pela janela, tento imaginar o porquê de se encontrar preso aquela cama. Olho-o e mal lhe vejo o rosto. Tinha uma máscara, e todo entubado, tentava respirar (parecia sufocar), mas ao mesmo tempo ,tranquilo (ele já estaria habituado aquele dia-a-dia sufocante, negro e igual aos anteriores )
As persianas semi-fechadas, proibiam-no de ver o dia bonito que estaria lá fora, apesar de para ele, todos os dias, por mais radiosos que fossem, pareceriam negros, e angustiantes.
O compartimento em que se encontrava já não era um quarto, porque um quarto, é algo acolhedor, em que encontramos para além dos nossos pertences, paz, sossego e amor. Ali não… apesar de ser uma pessoa de fora (uma simples vizinha),vejo tudo menos um quarto. Vejo máquinas, máquinas, máquinas e ainda máquinas. O barulho de fundo era um simples tim, tim, tim , tim, daquela máquina horrorosa com quem ele falara - parecia a sua única companhia( Quem sabe se o próprio senhor António já não lhe deu nome).


Escrito por: Bárbara Rocha

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