sexta-feira, 19 de junho de 2009

Dor

Faço força.
Estou a tentar impedir, mas não consigo. As lágrimas caem-me como se fosse uma pequena criança de 5 anos, em que perante tanta birra, e por mais que fosse um jogo de persuasão, as lágrimas teimavam em descer sobre o meu rosto. Desciam sobre os meus lábios, e saboreava-as… Estavam e continuavam salgadas como da ultima vez. Queria fechar os olhos e adormecer para que assim que arranjasse força para os abrir, estaria tudo normal- ( Os meus olhos continuariam brilhantes e negros , como era costume.)
Infelizmente, a paisagem não era essa. Os meus olhos meio cerrados, continuavam avermelhados, e depois de tanta queda de lágrimas, as pestanas colavam-se umas às outras, e deixava de ver. Era esse o meu objectivo! Deixar de ver a realidade em que me encontrava… deixar de ver o sofrimento a bater-me a porta, e a dizer “não te vou abandonar”…
Deitava-me no chão frio e sujo do meu quarto, e de cabeça encostada a este, ouvia o bater do meu coração. Pum-Pum-Pum-Pum-Pum . Por momentos gostava de não o ouvir, para que o meu simples cérebro fosse o suficiente para viver e guiar os meus próprios dias,( Mas não, feliz ou infelizmente, o coração sempre foi o primeiro a dar o primeiro palpite).
Queria deixar de te ouvir,
Queria deixar de sentir,
Queria estar só, e que nada tivesse que mudar, a não ser o simples facto de ter de sair.

De mãos dadas, vinco as unhas na minha própria pele, até sentir dor superior aquela que sentia antes de o fazer. Quero acabar com esta dor que parece não ter fim, e que me arranca o sorriso da cara, como que se os meus dias estivessem abandonados à dor. À dor que tu me provocaste. À dor que sinto e que me abraça como se fossemos amigas de infância (não me lembro de ti, ou então tal como eu, cresceste, e hoje, estás enorme)- se já és “tão crescida”, e cresceste tal como eu, hoje já deverias ser independentes, e como tal, devias abandonar-me , para que possa ser feliz.

2 comentários:

  1. A dor acompanha-nos no dia a dia. Umas vezes mais forte, outras sob a forma de um leve aperto na barriga.
    Está sempre lá... sempre pronta a dar uma pontada mais aguda quando as sensações ou sentimentos são mais desagradáveis.
    Por vezes permanece forte durante tempos mais longos, transforma-se em sofrimento... tentamos disfarçar e não conseguimos... tentamos dizer a nós mesmos que irá passar, sabemos que é possível, mas não sabemos como nem quando.
    Um dia em que estejamos felizes, em que a dor quase não se sente, é para aproveitar... nunca sabemos quando o analgésico em forma de felicidade deixará de fazer efeito.

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  2. Este teu texto lembrou-me um dialogo de um filme que gostei muito, "Little Miss Sunshine". O tio, recuperando de uma tentativa de suídio por não ser amado pelo seu aluno, diz ao sobrinho, que fez um voto de silêncio até conseguir o seu objectivo: entrar na Força Aérea, e que o quebrou no dia em que descobriu ser daltónico, o que o impedia de seguir o seu sonho.
    A conversa diz assim:

    Dwayne: I wish I could just sleep until I was eighteen and skip all this crap-high school and everything-just skip it.

    Frank: Do you know who Marcel Proust is?

    Dwayne: He's the guy you teach.

    Frank: Yeah. French writer. Total loser. Never had a real job. Unrequited love affairs. Gay. Spent 20 years writing a book almost no one reads. But he's also probably the greatest writer since Shakespeare. Anyway, he uh... he gets down to the end of his life, and he looks back and decides that all those years he suffered, Those were the best years of his life, 'cause they made him who he was. All those years he was happy? You know, total waste. Didn't learn a thing. So, if you sleep until you're 18... Ah, think of the suffering you're gonna miss. I mean high school? High school-those are your prime suffering years. You don't get better suffering than that.

    Se não tivesses o 'sofrimento' de conhecer essas pessoas, que tantas vezes nos fazem doer tanto e com tanta força, hoje não serias quem és. Se não as tivesses conhecido, provavelvemente também tu terias perdido os melhores anos de sofrimento da tua vida...
    Mas, eu percebo-te, juro. Quantas vezes também me deito, em momentos de completa alienação, no escuro e com música que tenha efeitos 'nocivos' em mim, e digo, baixinho, que me libertem. Ao mesmo tempo que tenho consciencia do quão mais sorridente era se não tivesse aquela dor, peço que não me abandone, que fique comigo, que consigamos ser hoje tudo aquilo que na tal infância (ainda me recordo bem, tão bem o quão estúpida era em acreditar) não conseguimos ser. Mas hoje é tarde demais. Eu já não sou a mesma e já não espero como esperava, a luz já não me guia até, cega-me de forma intensa. Hoje, também 'ela' não é a mesma. E culpo-me ainda por essa mudança, que no fundo é saudavel, mostra a mobilidade do ser humano ao longo do tempo, a sua construção enquato isso - ser.
    Hoje sou outra sara, depois desses 'melhores anos de sofrimento'. Hoje também tu não me conheces. Choramos por isso, auto-mutilação constante. Hipocritamente sorrimos e dizemos que esquecer é a melhor solução.

    Gostei muito deste teu texto, embora seja penoso ler palavras tão frias, cruas e bonitas.
    Ainda me lembro de ti quando crianças e penso: Somos hoje tão diferentes. (Ainda bem!)

    Beijo néctar de mil-sóis, porque mereces tanto ser feliz. E sente a natureza, não a Humana, beijar-te hoje a pele, porque ela é tua.

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