sábado, 13 de junho de 2009

Sentidos!


Eram 19h e estava no café. Encostada à janela, olhei para o “mundo” lá fora, e como era de se esperar, estava tudo igual… Tudo permanecia relativamente calmo, e o tempo continuava igual- calor, e aquele ventinho agradável de fim de tarde.
Subitamente, tudo mudou.A presença de alguém salientou-se , e acabei por não conseguir evitar . Os meus olhos perseguiam-na. Era mais forte do que eu. A senhora de casaco branco, com aquela “bengala” branca, ia em busca de uma possível saída…Sim, admito, a minha preocupação era maior do que a dela. Ela continuava tranquila, como que se aquela escuridão em que se encontrava, fosse o arco-íris a que ela já estaria habituada. Ela era Cega! Para mim foi tudo muito estranho. É obvio que a percentagem de cegos não é assim tão mínima, mas a verdade é que a mim é a algo que me preocupa. Imagino-me na pele de cada uma dessas pessoas, e revejo-me naquela situação. A senhora já conhecia bem aquele local, no entanto quando se deparou com a passadeira, que para ela seria imaginária, e para nós tão real, acabou por ter de pedir ajuda a alguém que estaria a passar. O senhor , tal como cada um de nós devia fazer, levou-a até ao outro lado da estrada, onde aí, já estaria segura. Custa-me imaginar que pessoas supostamente já independentes, se encontram ainda tão dependentes dos outros. Todos os dias ao virar da esquina encontro pessoas bonitas, feias, com bom aspecto, ou com mau aspecto. A verdade é que pessoas como aquela senhora, têm de confiar em qualquer um que lhe apareça a frente, sem poder duvidar das respectivas intenções. Afinal, a “orientação” delas, está na mão de muitos de nós. Não falo em pena, porque pena, é um sentimento triste , mas sinto de certa forma um certo ódio pelo facto de a beleza do dia, da noite, não poder ser contemplada por estas pessoas. Irrita-me o facto de a beleza do brilho das estrelas, ser só observado por alguns. Irrita-me pensar que a visão é algo selectivo e que apenas alguns podem usufruir dela.

Agora sim… tenho pena destes “acidentes” da vida, e do facto de nem todos nascermos com os mesmos direitos. Apesar de todo o egoísmo e escuridão em que vivemos, o direito a “olharmo-nos”, era fundamental.

A visão deveria ser um direito e não um privilégio…

3 comentários:

  1. olha em redor. o que vês? o Mundo inteiro a olhar de volta. Cores, formas e estilos... Aproveita cada segundo desse instante pois a visão é um dom.

    Cada qual tem uma visão do Mundo, mesmo não o podendo ver... E por vezes acaba por ser essa a melhor visão possível.

    ResponderEliminar
  2. Neste caso, a verdade é que a expressão "Olhos que não vêm, coração que não sente" é totalmente ilusória. Os olhos são apenas, mas tão importante, veiculo para chegarmos a estimulos visuais que nos agradem, desagradem, algo que nos guia, mas também que nos engana.
    Concordo que deve ser penoso viver uma vida na escuridão, mas não quer dizer que nesse sitio faça frio. Ou que eu, por conseguir ver, ver-vos, viva num constante estado de calor. Provavelmente existem pessoas muito mais cegas que os cegos, porque usam apenas os olhos, não sentem com o resto... E nesse caso, ouso dizer que por vezes todos nós deveríamos ser um bocadinho cegos, talvez assim houvesse mais pureza nas relações humanas.

    Apesar de tudo o que disse, sinto-me uma priviligeada em conseguir ver, mas se existo é para sentir, para sentir tudo Agora.
    E não,
    Nunca apenas ver.

    Mil beijos, Bá * (bonito espaço!)

    ResponderEliminar
  3. Ponho-me no lugar de alguem que não vê. Sim, é um obstáculo na vida diária... é estar privado de algo que todos vemos quase como essencial á nossa existência enquanto seres independentes. Mas se pensarmos mais um pouco, podemos imaginar a riqueza das emoções trazidas através dos outros sentidos. Sentimentos que nós talvez não tenhamos possibilidade de alcançar.
    Pergunto-me como serão os seus sonhos. Sem conhecer qualquer imagem, terão que sonhar com sons, cheiros, emoções a um nível muito mais profundo que o nosso.
    Para nós, os que temos capacidade para distinguir o amarelo do azul, a visão é de tal forma tida como adquirida que chegamos a cegar a outros níveis. Voluntariamente ou não, todos somos cegos em certos momentos, porque não queremos ou não conseguimos ver.
    Ver é relativo... se eu te vejo mas não te sinto, então não te vejo realmente. Se eu te sinto mas não te vejo, vejo mais do que aquele que só conhece a tua cara.

    ResponderEliminar